Quando a sua filha nasceu, Raquel Castro realizou um diário em vídeo ao longo de 365 dias para a filha ver quando crescer, desde o primeiro dia de vida até ao seu primeiro aniversário. Inspirada por esse diário privado e documental, criou um espectáculo onde o diário se torna espectáculo, uma carta-vídeo de uma mãe para uma filha, ou um retrato de uma pessoa e do mundo que a rodeia feito ao vivo para ser visto no futuro.
Quase sempre aquilo que parecia ter sido um dia igual aos outros, acabava por me surpreender, porque ao me obrigar a reviver o filme desse dia em câmara lenta, dava por mim a relembrar coisas, situações, imagens, pessoas ou palavras que tinha ouvido ou dito, que de outra forma eu jamais tornaria a lembrar. Foi importante perceber que a vida está cheia de presente, de um presente que não podemos abarcar na totalidade. A sensação era a de que afinal tinha vivido muito mais do que aquilo que julgava. Então o vídeo acabava também por funcionar como um depósito dessas coisas que nunca teriam lugar na minha memória, coisas por que passei mas que, de outro modo, acabariam de fora da grande narrativa da minha vida.