Oficinas

O projeto Oficinas surge da vontade de aprendermos outras formas de fazer e de questionarmos a nossa forma de fazer, em partilha com outros artistas profissionais de teatro.

Teatros do Gesto: Técnicas e Criação

Dirigida por Sofia Cabrita em 2024 no Rumo do Fumo (Espaço da Penha)


Formação sobre as linguagens de um teatro assente na fisicalidade, que diverge em géneros e subgéneros: mimo, pantomima, mimodrama, mimo corporal, entre outros. Herdeiro de poéticas e pedagogias, de gramáticas corpóreas, do teatro clássico, da dança, do desporto, das marionetas, o chamado teatro do gesto corresponde, na verdade, a uma série de intersecções da análise de movimento com a criação teatral. De que modo é que estas técnicas corporais não se encerram em si mesmas? De que modo podem servir a composição e a dramaturgia? Nesta formação iremos explorar algumas técnicas destes teatros do gesto, partindo dos seus pressupostos e convenções mais tradicionais e fazendo pontes com as diferentes possibilidades de atualização e criação.



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Oficina de Escrita – No Teatro para o Teatro

Dirigida por Miguel Castro Caldas em 2023 no Espaço da Companhia Olga Roriz


Diz-se muitas vezes “escrita de palco” para evitar dizer “escrever para teatro”. Talvez porque dizer “escrever para teatro” pareça dar a entender que quem escreve está fora do teatro a escrever o que deve acontecer em cena .Dizer “escrita de palco” parece dizer que quem escreve está em cima do palco a escrever cena. Essa ideia, como se sabe, foi amplamente criticada, desmontada e substituída por outras maneiras de dizer o que se faz quando se escreve para teatro: escrever para actores, escrever a partir de ensaios, escrever substractos textuais literários, escrever powerpoint, etc. Mas se olharmos ainda de uma outra perspectiva, podemos também dizer que se escreve para a plateia. Então, para já proponho dois pontos de vista, dois lugares a partir dos quais se pode escrever no teatro para teatro.

1. Estou numa plateia a olhar para o palco – Estou a ver o que escrevo? Estou a escrever o que vejo? Estou a descrever? A reescrever? Estou a responder? Estou a segredar coisas à pessoa que está sentada ao meu lado?

2. Estou em cima do palco – Estou a falar porque tenho alguma para dizer a estas pessoas? Estou a jogar um jogo e estas pessoas estão a ver-me jogar? A querer ver como reagem ao que faço? A dizer a uma multidão para se afastar? A construir o sítio de onde quero que me vejam?

Há seguramente outras maneiras escrever teatro, mas são estas sobre as quais gostaria de reflectir por algumas horas com um conjunto de pessoas. E experimentar para ver o que dá.



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O Ator-Criador

Dirigida por Nuno Pino Custódio em 2023 no Teatro da Luz


A improvisação, na origem do processo de criação, desenvolve-se a partir de ferramentas da dramaturgia que permitem aos atores o estabelecimento de estruturas, redes e escalas que norteiam a intencionalidade e a inventiva de uma obra. Não raro, habituado a depender de um estímulo prévio e extrínseco (normalmente, um texto dramático escrito), o ator sente-se desamparado, sem confiança e “sem ideias”, quando os processos necessitam que a improvisação participe de uma pesquisa ou, inclusive, se consubstancie na própria encenação.

Pode o ator ter um “novo cérebro”, assumir a improvisação como um trabalho que flexivelmente se repete, evolui e se transmite de forma intencional, consequente e capaz de suscitar um encontro vivo? Pode, simplesmente, esta sua arte do desdobramento encarar o espaço vazio e o desconhecido inerentes à descoberta, numa perspectiva mais consciente, estruturada e livre?

Ao longo de toda a oficina, três momentos históricos estarão sempre em fundo, evocando de forma muito íntima e óbvia o paradigma do Teatro Total: (1) a prática da oralidade épica dos bardos, poetas e contadores de histórias desses séculos imediatamente anteriores ao advento tecnológico da escrita, (2) o trabalho virtuoso e de grande inventiva do actor renascentista/barroco da Commedia dell’Arte e (3) o movimento dos renovadores dramáticos, na viragem do século XX que, com os impulsos iniciais do simbolismo, projecta criadores que buscam, paradoxalmente, um teatro sem actores (sombras e estátuas) ou, pelo menos, atenuando a sua presença, desmaterializando a “carne” com marionetas-humanas, máscaras e tudo o mais que os afastassem da contingência material do corpo e da estética naturalista.

Num tempo em que se expulsa o outro, se destrói a interdependência formal ver-fazer ou, ainda, se fere vitalmente a esfera do espaço público, a oficina O Actor-Criador procura ainda dar contributos objectivos para que o actor dependa de si próprio, para que aprenda a restabelecer o vínculo com quem o observa, o complementa e o faz constituir-se: o espectador.



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O Ator e a Neutralidade

Dirigida por Nuno Pino Custódio em 2022 na Boutique da Cultura


“O ator e a neutralidade” é uma oficina criada desde 2012 por Nuno Pino Custódio que sintetiza princípios e práticas do trabalho pedagógico com a Máscara Neutra e princípios, conceitos e práticas que se foram estabelecendo da sua atividade como encenador e formador, ao longo das últimas três décadas. “O ator e a neutralidade” pode considerar-se, assim, como uma abordagem estruturante para a definição de uma “ideia de teatro”, um contributo epistemológico dirigido ao ator, sobretudo àquele que busca um sentido e um propósito para a sua atividade, hoje.

Porque se faz teatro no dealbar de um século XXI que confronta esta arte e manifestação com questões tão hodiernas e complexas quanto a diminuição do poder da atenção e a permeabilidade da concentração, a cultura do hiperconsumo, a hiperatividade e o síndrome do excesso de informação, o desmembramento do espaço público ou, ainda, o desaparecimento desse olhar de preferência do espectador? Porque se faz teatro na era em que se expulsa o Outro? Tratando-se de uma máscara do ator, de uma ferramenta metodológica que desenvolve e consolida aquilo que podemos denominar como consciência do ator, e preparando-o para as mais diversas situações, estilos, géneros e técnicas, esta oficina busca mitigar e desprogramar impulsos e inconsciências oriundos do quotidiano de referência de cada um, manifestações culturais, invisíveis mas comuns, para que a possibilidade do teatro possa ressoar de uma forma plena, viva e duradoura.

Será de um “ponto neutro”, da imobilidade e do silêncio feitos de energia, que nascerá (que se evocará) realmente uma alteridade e, mais que isso, se clarificará toda uma interdependência entre “mostrar para ser visto” e “ver para ser mostrado”. Em “O ator e a neutralidade”, Nuno Pino Custódio direciona toda uma disciplina estruturante para três esferas da performance do teatro: o ator, o coro e, finalmente, a personagem.



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